Checar mensagens enquanto conversa com um amigo pode parecer descaso
Recentemente vivi uma situação que chamou a minha atenção:  minhas filhas de 11 e 13 anos e o primo, de 16 anos, encontraram-se na casa dos  avós no almoço de domingo. Os três com os respectivos celulares em mãos logo se  uniram e foram trocar músicas e mostrar os novos jogos descobertos.
Animados, intercalavam checagens de novas mensagens que  não paravam de chegar enquanto trocavam informações. Naquele momento, a  diferença de idades não se fazia notar, pois todos estavam no mesmo nível  tecnológico e falavam exatamente a "mesma língua".
Essa é uma das cenas mais comuns nos dias de hoje: as  pessoas conectadas, checando mensagens, ouvindo músicas com fones de ouvido,  mexendo em seus Ipads, Iphones, Itunes e tudo o mais que há por aí da mais alta  tecnologia.
A constatação de que os adolescentes não sabem mais se  relacionar sem esses aparelhinhos no meio me preocupou. Apenas bater papo ou  jogar algum jogo de tabuleiro, como fazíamos antes, já não satisfaz mais. Tudo  isso ficou "sem graça".
É uma grande ironia: as pessoas ali, ao vivo, não se relacionam, mas estão cheias de "amigos" na internet.
E aí eu e tantos outros pais que vivemos o mesmo dilema  nos perguntamos: isso é saudável? Será que essa necessidade de estar conectado  constantemente pode atropelar os relacionamentos pessoais? Qual é o limite que  devemos colocar no uso desses equipamentos para que os filhos não fiquem  absolutamente viciados nisso? Será, talvez, que devemos simplesmente nos  conformar com a nova realidade e aceitar que pra eles isso satisfaz?
Vejo, frequentemente, outra cena que me preocupa: casais  de namorados ou mesmo marido e mulher que, à mesa do restaurante ou em um  barzinho com música ao vivo, não se falam. Ambos estão preocupados em checar  suas mensagens no celular, as últimas postagens do Facebook ou bater papos  ?virtuais? via MSN. É uma grande ironia: as pessoas ali, ao vivo, não se  relacionam, mas estão cheias de "amigos" na internet. Para onde foi a qualidade dos vínculos  interpessoais? O virtual vale mais que o presencial?
Temos que educar nossos filhos dando-lhes limites para que  não se transformem em adultos viciados em relacionamentos "virtuais" e para que  deem o devido valor ao contato humano. Como você se sente quando está contando  algo para uma pessoa e ela fica o tempo todo checando mensagens, dizendo que  está prestando atenção ao que você diz, mas olhando para o celular e teclando  uma resposta? Não lhe parece descaso com a sua pessoa?
Pois é, infelizmente isso é cada vez mais comum. Devemos  aceitar o avanço tecnológico, pois, quanto a isso, não há mais volta. Ao mesmo  tempo, não podemos fechar os olhos ao que estamos fazendo com nossas  relações.
Recebo casais no consultório que se queixam da escassez de  diálogo em função do uso exagerado do computador por parte de um deles. A falta  de limite colocado por aqueles que levam trabalho para casa e continuam  conectados até tarde da noite com "coisas que não podem ser deixadas para  amanhã" tem afetado diversas relações.
Pais que não têm mais tempo para os filhos, para a  família, para o lazer e casais que não sabem mais o que é "namorar" vão pouco a  pouco minando seus vínculos.
A internet  chegou definitivamente para nos auxiliar, para abrir o mundo e nos conectar com  coisas que nem imaginávamos ser possível, mas não permita que ela nos desconecte  do que temos de mais valioso: nós mesmos e nossas relações verdadeiras.
 
 
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