Broncas e castigos só pioram a incontinência urinária noturna
Escrito por: Alfredo Canalini
Normalmente somos capazes de controlar nossa bexiga -  urinamos quando queremos, no momento e local adequados - mas não nascemos assim.  Nos bebês o sistema nervoso não está totalmente preparado e amadurecido para  proporcionar este controle consciente. Este processo ocorre ao longo do tempo,  nos primeiros anos de vida, de tal forma que aos quatro anos de idade 85% das  crianças conseguem controlar a bexiga durante o dia. O controle noturno costuma  ocorrer por volta dos seis anos. 
O que é enurese?
Enurese é a eliminação involuntária de urina, numa idade  onde este controle já deveria existir. A enurese noturna, urinar durante o sono,  é um problema psicológico e social bastante traumático para a criança, que pode  mobilizar emocionalmente todo o núcleo familiar. 
Ela pode ser primária, quando a criança nunca conseguiu  evitar a perda de urina, ou secundária, quando ela volta a molhar a cama após um  período de pelo menos 6 meses se fazer xixi involuntariamente durante o sono. Em  torno de 15% das crianças, por volta dos sete anos de idade, podem ainda  apresentar episódios de perda noturna. Aos 10 anos, este número cai para  5%. 
A enurese noturna em geral apresenta três aspectos  importantes: 
 
- É um sintoma que pode ser provocado por várias disfunções  diferentes; 
- É por vezes motivo de atitudes punitivas, com agressões físicas e psicológicas à criança;
- É uma condição benigna e transitória.
O que causa a enurese noturna?
Este sintoma pode ser provocado por várias situações, que  se dividem em três pilares principais: 
- Distúrbios do sono: a sensação de bexiga cheia/vontade de urinar não consegue despertar a criança;
- Falta de maturação do controle neurológico da bexiga, ou seja, a criança ainda não tem controle da micção;
- Aumento da quantidade de urina produzida pelos rins durante a noite.
Como lidar com a enurese?
Alguns casos dramáticos são relatados, desde  constrangimentos e castigos cruéis, até surras. As crianças, mesmo aquelas  criadas em lares mais pacíficos, costumam comparecer à consulta para tratar  deste problema com algum constrangimento e, por vezes, com sentimentos de  vergonha e humilhação. 
Por isso é que o médico que se propõe a cuidar desses  pacientes deve, desde o primeiro contato, demonstrar que verdadeiramente se  interessa pelo problema, sem, no entanto manifestar pena. A criança tem que  sentir que este profissional realmente se importa e que vai fazer tudo para  ajudar. 
Cerca de 70% das crianças que fazem xixi na cama têm parentes que tiveram o mesmo problema, sendo que em pelo menos 40% das famílias um dos pais passou pela mesma situação.
Uma abordagem que sempre funciona é, logo após o relato do  problema pelos pais, continuar a consulta com um diálogo dirigido à criança, e  informando logo de início um dos aspectos do problema: a hereditariedade. Cerca  de 70% das crianças que fazem xixi na cama têm parentes que tiveram o mesmo  problema, sendo que em pelo menos 40% das famílias um dos pais passou pela mesma  situação. 
Isto nem sempre é contado ao pequeno paciente, e quando  ele passa a saber disso - e mais ainda, quando no meio da consulta um dos pais  confessa que teve o mesmo problema - é impressionante como o semblante da  criança muda. A face de sofrimento se transforma em expressão de alívio por  descobrir-se não ser tão diferente assim. Os sentimentos que se seguem a esta  revelação são múltiplos: surge a esperança de que um dia, mais cedo ou mais  tarde, o problema dela também vai desaparecer. 
Tratamento
O tratamento correto depende de uma avaliação criteriosa,  e, geralmente, é prescrito somente por um período de tempo, o suficiente para  aliviar os sintomas enquanto o organismo está se desenvolvendo e "amadurecendo".  Não há uma conduta terapêutica única para um problema com tantas causas. Vários  tipos de medicamentos podem ser usados, associados ou não ao tratamento  comportamental. 
Na grande maioria das vezes, a enurese noturna tem cura  espontânea, sem necessidade de qualquer tipo de abordagem mais profunda. Com o  devido esclarecimento da criança e dos familiares, a ansiedade diminuiu. Em  algumas vezes isso basta para o desaparecimento dos sintomas.  
No entanto, é importante lembrar que em alguns raros casos  a enurese, noturna ou diurna, pode estar associada a algum problema mais grave.  Isto é raro, mas quando o diagnóstico não é feito podem haver severas  consequências. Crianças que mantêm este sintoma por mais tempo, e,  principalmente, acima dos 10 anos de idade, devem ser obrigatoriamente avaliadas  por um urologista. 
 
 
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