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quinta-feira, 10 de maio de 2012

Mensagem de Reflexão - As quatro pétalas da Rosa

Pétala 1 - Rosalina


Por Jaqueline Corrêa / Foto: Thinkstock
jaqueline.correa@arcauniversal.com


As quatro pétalas da Rosa narra a história de quatro mulheres que se conhecem parcialmente, e que possuem, além do nome, outra coisa em comum: a violência doméstica. No entanto, uma não conhece esse segredo da outra e, por sofrerem caladas, acabam tendo finais completamente diferentes. As quatro pétalas são as quatro mulheres representadas por uma das mais significativas flores que existem, a rosa. As pétalas formam um todo, mas, individualmente, e sem proteção, são fracas e morrem.


A minha cela é a de número 78. Miro a parede, porque é nela que guardo as minhas lembranças. As fotos do meu salão, do Pingo, o meu cachorro vira-lata, das minhas amigas que nunca mais vi, dos meus funcionários e até dos meus cantores sertanejos preferidos. Pintaram a parede de rosa bebê, porque dizem que é mais feminino.

Mas feminilidade é uma coisa que eu já perdi há muito tempo, desde quando cheguei aqui.

As minhas colegas bem que tentam me arrumar. Algumas pedem aos parentes que tragam maquiagem, esmalte, bijuterias, mas, sinceramente, nada disso me enche os olhos. Estou desgostosa da vida há bastante tempo. E não digo que foi desde que entrei aqui no presídio, mas a partir do momento em que me envolvi com aquele homem que achava me amar.

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Ele apareceu no meu salão de beleza como um cliente qualquer. Um dia, o salão estava muito cheio, era época das festividades de final de ano. Um dos meus funcionários havia faltado, e como na cidade onde morava não havia muitos salões de beleza, me vi em apuros para tentar atender a todos. Mas ele parecia não se importar com nada disso. Até me falou que eu não precisaria me preocupar, já que não tinha pressa. Atendi um por um.

As mulheres, como você sabe, são as mais complicadas.

Quando algumas chegavam já sabendo o que queriam era bom, mas quando ficavam em dúvida sobre que corte fazer, que cor pintar, que penteado ficar, confesso que me atingia os nervos.

Claro que eu não demonstrava, afinal, era dali que vinha o meu sustento, e por isso devia tratar a todos da melhor forma.

Bem que não as condeno. No fundo sou assim também. E como elas queriam ficar da melhor forma possível para as festas, a minha obrigação era procurar fazer o meu melhor. Porque em cidade pequena geralmente é assim.

Não há muito o que fazer, geralmente é uma praça, um parque para as crianças, pequenos botecos de esquina. Isso não é muito, mas já faz a alegria dos moradores. E com o Natal e o Réveillon se aproximando então, a nossa alegria fica completa.

Quando terminei de atender cada cliente, já era bastante tarde. Os meus funcionários se despediram e eu disse que poderia fazer o corte no cabelo do cliente paciente. Me encantei por ele. Pelo reflexo, percebi o quanto me olhava.

Não lia revistas, como costumavam fazer as outras pessoas, ele me olhava profundo, nos olhos, mesmo que pelo espelho. Cheguei a ficar sem graça por um instante, mas confesso que estava gostando. Afinal de contas, ele era muito bonito, atraente, e eu, solteira mesmo.

Eu nunca havia casado. E ele estava morando na rua do meu salão havia pouco tempo. Era de outra cidade. No início achei estranho não ter ninguém, mas fiquei contente quando me falou que era divorciado.

– Você quer que eu passe a máquina?

– Não, obrigado! Não gosto de cabeça raspada. – Ele sorriu. Eu também. Na veradade, era um exagero. Eu cortei pouco, quase não mudei o visual dele, mas saiu de lá satisfeito.

Ele pagou, nos despedimos e ele foi embora, olhando para trás, como se quisesse voltar para pegar alguma coisa que havia esquecido. E eu, do lado de dentro, vendo aquele homem me atraindo mais e mais, a cada passo que dava.
Continua...

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